Eram tempos de vida saudável, e ficávamos felizes com estas pequenas coisas

Foto: Tudo Ela

Estava no ano de 1964. Adolescente…o meu sonho era ter um livro de autógrafos. Era moda na época. Quase todas as raparigas da minha idade tinham um.

ALGUMAS OFERECIAM-LHES, OUTRAS COMPRAVAM E AS QUE NÃO PODIAM IMPROVISAVAM, COM UM CADERNO ONDE FAZIAM UNS DESENHOS NA CAPA. Eu fui uma sortuda pois a minha madrinha ofereceu-me um no dia do meu aniversário. Delirei, era lindo, cor de pérola, que eu forrei com papel celofane, não fossa o diabo tecê-las e sujar-se.

Há poucos dias encontrei-o e achei graça ao lê-lo.

Aos amigos, aos professores, enfim quase a toda a gente conhecida e amiga pedia que me escrevessem um autógrafo. Eram tempos de vida saudável, e ficávamos felizes com estas pequenas coisas.

Resolvi transcrever alguns versos, que muita gente escreveu:

És estudante ó miúda

Melhor vida não terás

Verás como a vida é dura

Quando deixares os papás

(de uma professora)

A vida de um estudante

É uma vida amargurada

Quem estuda não pode amar

Quem ama não estuda nada

(de uma colega)

Amava-te eternamente

Se eterno pudesse ser

Mas como não sou eterno

Amo te até morrer

(de um amigo?)

Fui ao aeroporto

Tive um aero-desejo

Vi um aero-moço

Que me deu um aero-beijo

(de uma colega)

Fui ao livro do destino

Meu destino procurar

Passei folhas sem fim

Nasci só para te amar

(de um amigo)

Se queres ter bons

Saber e delicadeza

Lê um livro que se chama

Ciências da natureza

(de um professor)

Mais um dia é passado

Na tua existência colorida

Junta hoje mais um dia

Aos gozos da tua vida

(de uma prima)

Com um A se escreve amor

Com um R recordação

Com H se escreve o nome

Que tenho no coração

(de uma colega)

Estimávamos as coisas com todo o cuidado, pois tínhamos poucas. Estudávamos para boas notas, pois os pais repetiam vezes sem conta “que era o nosso trabalho”. Se passássemos de ano não havia prendas pois “era o nosso trabalho”. Frequentávamos a Escola e ponto…não havia grandes preocupações para os pais.

Agora que tenho oito netos, vejo os progenitores quase com depressões devido ás notas das crianças, adolescentes e adultos (pois os meus netos vão dos 4 aos 23 anos). Conhecendo amigos e amigas dos meus filhos (que são 5) tudo é um problema…e dos grandes e penso que as próprias crianças vivem sob uma grande pressão. Será que é necessário? Deixem-nos ser simplesmente…felizes. A partir daí todo o resto virá, sem complicações.

Escrito por Maria Cruz