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Ainda vão ficar A PÃO E LARANJAS

Há uns meses fui convidada para visitar a vivenda de umas pessoas, que fizeram questão de me obsequiar com um lanche. A casa era nova e lá me sentei na sala para o repasto. Como gosto de ler, chamou-me a atenção duas prateleiras repletas de livros, impecavelmente arrumados, muito direitinhos, novinhos em folha, todos eles com os títulos a dourado. Ficavam deveras bem, ali colocadinhos e de facto faziam um “vistão”.

No pedaço de terreno a frente da casa, lá estavam plantadas laranjeiras, nespereiras, uma nogueira e mais umas quantas árvores de fruto. Como aquela casa, naquela aldeia e noutras vizinhas, todas tinham, para embelezar a sua pequena fruticultura. Até aqui tudo bem. Fica bonito, como se diz. Agora vem a parte pior. Parte destes frutos, quando amadurecidos, não são colhidos, salvo honrosas excepções. Isso dá muito trabalho e comprar no supermercado é mais cómodo. E quando estão maduros demais o chão fica coberto, parte deles já podres.

Olhando para isto fico a pensar. Tanta gente com carências económicas e com falta de comida. As famílias com necessidades são cada vez em maior quantidade, devido às boas políticas e ao grande interesse dos nossos sucessivos governantes que da boa fruta não lhes falta na mesa. Crianças que a única refeição quente com fruta é dada nas escolas. Idosos com pensões miseráveis, que não conseguem alimentar-se dignamente.

E lá vou eu aos montes de presidentes, ministros, secretários de estada, deputados, adjuntos, chefes de gabinetes, vereadores, etc, etc, que até numa noite de com sono, mas de barriga cheia, não têm um sonho em que arranjavam voluntários, desempregados e depois de pedirem autorização aos proprietários, apanhavam esses frutos afim de serem distribuídos por quem deles tanto necessita.

Pensem senhores pensem, até os voluntários do banco alimentar que estão duas vezes por ano á porta das grandes superfícies, para assim engordarem mais os lucros daqueles senhores, não se importariam de colher os frutos.

E lá volto eu às grandes e produtivas discussões, grande parte delas inúteis e enfadonhas, que depois de horas infindáveis de discursos, não sai de lá coisa nenhuma. Ou seja sai: dinheiro para os bancos, dinheiro para pagar a nossa (deles) dívida externa, que continuamos sem saber como e por quem foi feita. Juro que por mim não. Aposentei-me com dezenas de anos de descontos, sempre paguei os meus impostos, sempre comprei e paguei a alimentação, o vestuário, calçado, saúde e educação aos meus filhos. Até hoje ninguém me deu nada, a não ser prendas de aniversário. Por isso me insurjo: eu não contribui em nada para a divida deste pais. E como eu muitos mais cidadãos.

Mas lá estou eu com devaneios e a deixar o cerne da questão. Comecemos pelas juntas de freguesia. Não há uma cabeça pensante que alguma vez se lembrasse disto. Parecem pequenos pormenores, mas não são. São uma entre as grandes questões do meu programa para este pais. E eu não brinco em serviço. Tomem atenção: talvez um dia e talvez mais próximo do que imaginemos precisaremos dessas laranjas que, com um pouco de pão, serão uma refeição. Aproveitem não vão ficar um dia “ A pão e a laranjas”.

E ficarão agora a pensar: o que têm a ver os livros nas prateleiras da casa da senhora, com os frutos nas árvores. Pensem comigo: aqueles livros decerto nunca serão lidos, estão pura e simplesmente a embelezar a sala, assim como os frutos jamais serão comidos: estão a embelezar os terrenos.
Ainda vão ficar A PÃO E LARANJAS Ainda vão ficar A PÃO E LARANJAS Reviewed by Emotiva Memória on 01:05:00 Rating: 5
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