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63 anos a namorar

Foto: ASCOM UFPa
Tem 83 anos. Boa aparência e conversa fluente, que ouviria durante horas.

Sentada à mesa de um café, a tomar o pequeno-almoço, a D. Marta (nome fictício, convida-me para me sentar junto dela. Conheço-a há anos. Quando os netos frequentavam a escola onde prestei funções, todas as semanas lá ia saber como se comportavam os netos, os seus meninos, pois as respectivas mães trabalhavam e não podiam ir com tanta frequência.

Em cima da mesa tinha uma rosa vermelha (diz ter sido uma menina que lhe ofereceu à entrada do café. Era dia dos namorados.

Com toda a calma que lhe é peculiar diz-me: Sabe, talvez seja o dia para quem não namora a toda a hora. Para mim é mais um dia de amor. Sim, porque eu tenho o amor da minha vida, que amo e sempre amarei há 63 anos.

Foram altos e baixos, mas nunca desistimos. Lembrei-me das palavras de Mahatma Ghandi: nas grandes batalhas da vida, o segredo para a vitória é o desejo de vencer.
Continuou: hoje devido ao cansaço desta grande caminhada, estou um pouco mais lenta, pois em certas alturas foi dura. O que é certo é que nunca desisti e continuo com o mesmo espírito.

Transmito isso às minhas filhas e netos: uns “apanharam” a mensagem, outros nem tanto. Mas tenho a consciência tranquila, pois sempre lhes disse “vamos para a frente que atrás vem gente". Achei uma boa metáfora.

Quando partir, quero regressar para continuar a minha tarefa de mãe e educadora. Sim, porque mãe é-se para toda a vida, sem intervalos. O meu marido há anos que vive para as filhas e netos, e já bisnetos claro.

Mas falando em dia dos namorados, continuamos apaixonados. Não podemos estar muito tempo, um sem o outro. Digo muitas vezes que se ele partir à minha frente, não sobreviverei muito tempo. São muitos de anos de convívio, de cumplicidade e essencialmente de muito amor. Para esta sobrevivência matrimonial é necessário muitas cedências de parte a parte.

Claro que, no meio de tudo isto não nos faltam as preocupações, naturais de quem tem uma família como a nossa, mas também não nos faltam momentos de carinho e felicidade.

Ambos somos solidários para quem precisa. Ajudamos sempre que nos é possível, os que nada ou quase nada têm. Fazemo-lo em conjunto. Nesta parte também temos a consciência tranquila.

Quando chega a casa e não me vê, lá vem o chamamento “Marta”.

Custa-me ver o que se passa pelo nosso País. Tão pequeno! Podia ser um paraíso, se as pessoas se ajudassem umas às outras. Felizmente ainda há muita gente com coração. Mas não chega. Era preciso mais. E não custava nada.. Ainda se estraga tanta comida, que podia alimentar quem nada tem. Que um dia não paguem pelo que estão a fazer.

Tive uma época da minha vida com dificuldades. Mas nada era escondido aos filhos, todos sabiam as dificuldades que estávamos a atravessar e todos compreendiam. Errado é esconder as dificuldades da vida, que lhes poderão bater à porta um dia, e não saberão como gerir a situação. Outra coisa que me deixa a consciência tranquila.

Depois destas conversas, que adorámos, cheguei a casa a transcrevia-a para o meu caderno. Grande história de vida. Espero que a “D.Marta” transmita alguma coisa a quem ler este meu artigo.

Escrito por Maria Cruz
63 anos a namorar 63 anos a namorar Reviewed by Emotiva Memória on 14:58:00 Rating: 5
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